MAINARDICES

22/10/2014 20:56

Podem atirar. Ui! Ai!

"Já estou me preparando para o pior. Os 
lulistas querem comprar a imprensa. É o 
método deles. Compram tudo. Quem não 
quiser o dinheiro deles terá de se arranjar"

Eu não era o Oráculo de Ipanema? Como pude errar tanto assim? Em novembro de 2004, vaticinei que Geraldo Alckmin seria eleito presidente no lugar de Lula. Cito-me:

Lula vai perder em 2006 porque o PT será identificado como o partido que desvia verbas para financiar campanhas eleitorais. Que persegue a imprensa. Que segue a tradição coronelista de distribuir esmolas em troca de votos. Que compra o apoio de outros partidos com malas cheias de dinheiro. Que se alia desavergonhadamente a políticos que sempre combateu. Que dá carta branca a seu tesoureiro em reuniões ministeriais. Que protege os amigos do presidente.

Repito: novembro de 2004. Muito antes do mensalão. Muito antes de Roberto Jefferson. Na ocasião, ninguém acreditou em minha profecia. O que se sabe agora é que não era mesmo para acreditar. Lula está lá na frente. Geraldo Alckmin está lá atrás. O Oráculo de Ipanema revelou-se uma fraude. Mais um charlatão tentando se aproveitar da credulidade popular. No ano passado, quando Lula parecia morto, cobri-me de glória. Os devotos vinham depositar oferendas na porta de casa. O tempo passou e o falso profeta foi desmascarado. Chegou a hora das pedradas. Podem atirar. Eu fico parado. Ui! Ai!

O segundo mandato de Lula será uma chatice. Já estou me preparando para o pior. Os lulistas querem comprar a imprensa. É o método deles. Compram tudo. Compram jornalistas, compram deputados, compram nordestinos pobres. Quem não quiser o dinheiro deles terá de se arranjar. No caso da imprensa, o ataque será indireto, por meio dos tribunais. Nesse ponto, sou uma espécie de cobaia dos lulistas. Nos últimos anos, eles apresentaram um monte de denúncias contra mim. Perdi a conta de quantas elas são. Mais de 100. A mais extravagante de todas é a dos acreanos. Meses atrás, no Manhattan Connection,comentando a frase de Evo Morales de que a Bolívia havia cedido o Acre em troca de um cavalo, respondi ironicamente que aceitaria o cavalo de volta. Uma deputada federal do PCdoB, Perpétua Almeida, mandou os funcionários de seu gabinete recolher assinaturas de acreanos dispostos a me processar. Oitenta e tantos apareceram. O resultado é que tenho oitenta e tantos processos individuais num tribunal do Acre. É como se os moradores de Pelotas processassem Lula por seu comentário ofensivo sobre a cidade. Processem-no, pelotenses.

Muita gente me considera a versão barata de Paulo Francis. Ele enfrentou um processo de 100 milhões de dólares da Petrobras. Eu enfrento processos de 7 000 reais de oitenta e tantos acreanos. Perpétua Almeida é minha Petrobras. Dei uma olhada nos projetos de lei de sua autoria. Um deles obriga todos os órgãos federais a comprar e a expor obras de artistas nacionais. Outro estende a Voz do Brasil para a televisão. Eu sou a versão barata de Paulo Francis. O lulismo é a versão barata do que a gente queria para o país.

 

O insuportável Diego Mainardi

:: Colunista pregou a deposição de Lula, seguida de prisão. Por Melchíades Cunha Júnior

(Diogo não se incomodou nem um pouco com a possibilidade de o título acima ser dado a esta matéria. Ele próprio, em entrevista à Gazeta do Povo, reconheceu que nos últimos meses se transformou numa “pessoa bastante insuportável”. É um título chamativo, concordou. Especialmente para provocar a atenção de quem não gosta dele. Na certa, essas pessoas vão devorar as linhas que se seguem, em busca de sangue. Resta saber se ficarão saciadas.)

Um agente provocador com cara de galã do cinema italiano? Um dom-quixote que cutuca feras com lança curta? Um sujeito atrevido que só quer saber de sair bem na fotografia? Um direitista que defende George Walker Bush e a invasão do Iraque? Uma mente brilhante que zomba com estilo dos malfeitos de políticos, artistas e empresários brasileiros? Tem gente que concorda, no todo ou em parte, com o que está dito acima.

(Nota: esta matéria de Melchíades Cunha Júnior foi publicada originalmente em O Estado de S. Paulo, em 22/1/2006.)

O certo é que, depois de uma conversa de mais de três horas, a impressão que fica dele é a de uma figura zen, de fala educada, expressa em frases bem torneadas. Confessa, por exemplo, que sofre feito um iniciante em jornalismo para escrever sua coluna na Veja. Passa dias e mais dias da semana pesquisando temas e a forma de abordá-los nos 2/3 de página de que dispõe na revista. O mesmo sofrimento se repete ao receber a pauta do que será debatido no programa semanal de tevê a cabo Manhattan Connection, da GNT, onde contracena com Lucas Mendes, Caio Blinder e Ricardo Amorim. O consolo é saber que a internet fornece respostas para quase tudo do que precisa para não fazer má figura. Um outro é que, de seu escritório, com um virar de cabeça, ele dá de cara com a bela paisagem do Atlântico se esparramando pelos continentes ocidentais.

De nome inteiro Diogo Briso Mainardi, ele nasceu na hoje agonizante Maternidade São Paulo, na Rua Frei Caneca, em 22 de setembro de 1962. Uma de suas características mais marcantes: não liga a mínima para o que dizem seus críticos e detratores – que não são poucos. Diz isso com tamanha convicção e serenidade que fica difícil supor que ele não esteja sendo sincero. O pai é filho de italianos e a mãe filha de portugueses (o sobrenome Briso foi inventado pelo avô materno, que o achou bonito e teve por bem incorporá-lo aos descendentes, entre eles Diogo e seu único irmão, o cineasta Vinicius).

Nada mais brasileiro que um descendente de italianos e portugueses, não é? Mas o rapaz implica com o Brasil (até escreveu um romance chamado Contra o Brasil) e abomina São Paulo – a cidade onde nasceu. Também se fica sabendo, entre outras coisas, de seu extremado amor pelos filhos, em especial por Tito, de 5 anos, como se verá mais adiante.

Uma das histórias protagonizadas pelo filho do publicitário Enio Mainardi, tão polêmico quanto ele: acusado de subversão da ordem constitucional, foi absolvido no Supremo Tribunal Federal, num processo relatado pelo ministro Celso Mello e que lhe fora movido por um advogado inconformado com as críticas do rapaz ao presidente Lula.

Um assunto delicado

Existe pecha mais infamante que a de dedo-duro? Pois ele foi assim chamado, pelo veterano Alberto Dines, tido, com justiça, como um dos pais-fundadores da virada, para melhor, do jornalismo brasileiro. Um breve histórico: em sua coluna na Veja, edição de 7 de dezembro último, Mainardi citou nomes de jornalistas influentes, entre eles o do próprio Dines, como comprometidos e/ou a serviço do governo Lula ou do petismo. No site do Observatório da Imprensa, uma espécie de ONG por ele comandada, Dines deu uma primeira resposta: “Diogo Mainardi apenas se assumiu como representante nativo do macarthismo. A classificação é do próprio. Macarthismo mainardiano não passa de uma combinação da ancestral caça às bruxas com um despudorado narcisismo. Estes tipos de ‘dedo-durismo’ e delação não existem apenas em ditaduras e tiranias. Estão em toda parte, das gôndolas de Veneza aos bares da moda. Trata-se de um vírus mutante que pode manifestar-se ora como palhaçada, ora como megalomania ou, na sua versão mais recente, como furor inquisitorial.”

Diogo continuou no ataque de seu front no semanário, e Dines voltou a atirar: “É preciso reconhecer que Diogo Mainardi está prestando um enorme serviço ao jornalismo brasileiro. E quiçá mundial. Mais algumas tentativas de ressuscitar o macarthismo e o rapaz será convidado para a ceia de Natal da Casa Branca. À direita de Dick Cheney.”

(Em seus arrazoados, Dines poderia ter lembrado, como contraponto, que até pouco tempo as redações brasileiras adotavam uma espécie de pensamento único em relação ao PT. Poucos jornalistas tinham coragem de sair do armário para criticar, intramuros, Lula e seu partido. Desde Lenin, o esquerdismo, e não a esquerda, é considerado uma doença infantil. Daí não ser razoável confundir antiesquerdismo com reacionarismo, coisa que Dines não fez, aliás. O certo é que a queda do Muro de Berlim desnorteou muita gente que se diz de esquerda, e animou outro tanto que nunca aceitou o ‘socialismo real’ que era servido nos países do leste europeu. Aqui, a onda antipetista começou a ganhar volume com a revelação do escândalo Waldomiro e, com Roberto Jefferson, virou uma tsunami. O PT perdeu o encanto. A exemplo do que dizia o jardineiro português de Nélson Rodrigues a propósito do sábado, o Partido dos Trabalhadores é uma ilusão.)

Ironias

A polêmica prosseguiu, é claro. Provocados pelo site Comunique-se (feito por e para jornalistas), poucos nomes da lista de Mainardi aceitaram a luva. Vale registrar a verve com que um dos citados, o articulista Luiz Garcia, de O Globo, saiu-se da provocação: “Merda! Ele descobriu tudo!”

Nesta conversa com o Estado, Diogo fez ironia sobre sua polêmica com Dines. Disse que vai cobrar direitos autorais, já que foi ele próprio quem se classificou de ‘dedo-duro’. E repetiu: jornalistas traem sua missão quando se comprometem com o governo de plantão. E ninguém mais feroz do que ele quando se trata de um governo chefiado por Luiz Inácio Lula da Silva. Ele quer que o presidente não seja meramente derrotado em outubro, mas impiedosamente massacrado. Diz que Serra já ganhou a eleição, e adverte que daqui a três anos provavelmente estará pregando a sua derrubada.

Outra história de repercussão intensa no meio jornalístico, protagonizada por nosso homem. Ele decidiu por conta própria não respeitar uma revelação em off – uma instituição sagrada do jornalismo, qual seja a de não publicá-la, num compromisso tácito equivalente ao do padre confessor da Igreja Católica – que obteve do deputado José Janene, do PP, envolvido no mensalão do valerioduto. Em sua coluna na Veja, transcreveu o teor da conversa que teve com o parlamentar, quando o dito-cujo entregou o deputado cassado José Dirceu. O ex-chefe da Casa Civil de Lula, segundo a inconfidência de Janene, de fato cooptava deputados para votar a favor dos projetos de interesse do governo Lula. “Eu imaginei que o Janene não fosse falar comigo. Ele falou porque queria me usar como garoto de recados. Outros repórteres são obrigados a fazer esse papel, para manter fontes, para conseguir interlocutores políticos. Eu não tenho o menor interesse em ter interlocutor político de qualquer partido. A minha coluna não se baseia nisso”, explicou-se Mainardi na entrevista referida lá em cima.

Parajornalismo?

O jornalista Luís Nassif, em sua coluna na Folha de S. Paulo, disse que Diogo não faz jornalismo, mas parajornalismo. Os dois trocaram insultos de seus postos na imprensa, cuja malignidade maior ou menor pode ser aferida nos sites de pesquisa da internet.

Mas Mainardi concorda que nem sequer pode ser chamado de jornalista, já que não possui o registro profissional que a lei exige. Revela não dispor de qualquer diploma de curso superior. Depois do colegial, fez apenas o primeiro ano do curso de Economia da PUC de São Paulo e, durante sua estada na Inglaterra, freqüentou por tempo igual a London School of Economics, na qualidade de aluno ouvinte. Lembra não ser um exemplo isolado. Diz que Ivan Lessa e Paulo Francis – seus modelos de jornalista – têm um currículo escolar tão pobre quanto o seu.

Não foram poucas as rajadas de críticas ferozes endereçadas ao colunista, desde que passou a dispor de um espaço certo na Veja – dois terços de página, não mais do que três mil toques, ou caracteres do teclado de um computador. Considera os ataques recebidos como parte do ofício a que se propôs. E ele o exerce com um estilo que é também malhado por seus detratores, que o classificam de um subproduto de Francis. Brigas com cachorros grandes, de outras áreas extra-imprensa, também engordam o seu currículo. Dois exemplos: as que trava com o banqueiro Daniel Dantas e com o empresário Carlos Jereissati, irmão do presidente nacional do PSDB, que lhe move um processo na Justiça.

Seus escritos estão sempre entre os temas mais comentados na seção de leitores da revista. No Google, há 75 páginas com registros a seu respeito. Cada página remete a dez conteúdos. E ele acha que já chegou ao auge como colunista. Improvável.

À beira-mar plantado, cultivando a estima pelo silêncio

O visitante fica com inveja , sem a menor vontade de parar de contemplar a paisagem que se oferece do imenso living room do apartamento do terceiro andar, um legítimo Vieira Souto, onde mora Diogo, sua mulher Ana e seus filhos Tito, de 5 anos, e Nico, de 6 meses. Ana é de Veneza, historiadora, especialista em arte bizantina; desempregada, por suposto. O metro quadrado da Vieira Souto é o mais caro da orla carioca. Ninguém se refere a ela como avenida, e ninguém também está interessado em saber quem foi esse homem que dá nome a esse logradouro de Ipanema. Recorde-se que, pouco depois da morte de Tom Jobim, surgiu um movimento na cidade para dar o nome do compositor à avenida, que começa no Arpoador e só troca de nome quando a Praia de Ipanema passa a ser chamada de Praia do Leblon. De qualquer forma, um apartamento ali é chamado de um “Vieira Souto”. “Esqueçam essa história de trocar o nome para Tom Jobim”, aconselhou-se na época aos líderes mudancistas. Não se falou mais no assunto. A família Vieira Souto deve ter gostado. Mas isso também não tem a menor importância. Vieira Souto é mais do que uma placa; virou sinônimo de coisa chique, cara e exclusiva.

O apartamento é alugado. O prédio tem apenas quatro unidades, uma por andar, já que construído na época em que o gabarito máximo permitido para a região era de quatro pavimentos. (Ou seriam cinco?) JK morou num desses prédios, não muito longe de onde mora Diogo. O living room é amplo e com decoração mínima, estilo clean: dois imensos sofás brancos separados por uma mesa de centro retangular, quadros na parece com fotos do Rio antigo, e um televisor grande de tela plana. O casal Mainardi deve ter pensado que, por mais coisas atraentes que colocassem no living, elas se chocariam com a paisagem oferecida pelos janelões: o mar aberto, pontuado pela silhueta das Cagarras, encostando na linha do horizonte. A vista se oferece desde o fundo do living, e também do pequeno escritório do locatário. Para quem se aproximar dos janelões, o panorama se enriquece com a visão da praia e dos corpos de dezenas de garotas de Ipanema, neste meio de tarde de um janeiro em que o sol se abriu e o céu ficou azul, pondo fim a uma temporada de chuvas intensas e diárias.

O colunista de Veja e debatedor do Manhattan Connection, da GNT, diz que ganha bem, mas que gasta tudo. Só com o aluguel e condomínio já lá se vão mais de R$ 6 mil; o filho Tito consome outro tanto – fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, escola… No fim das contas, não sobra um centavo para a poupança. Revela que vive sem esbanjamentos, que não tem automóvel, que praticamente não sai do quarteirão onde mora, que não se desloca mais do que dois quilômetros à direita de seu prédio, pela orla, ou por Ipanema adentro, e que quando tem que ir a lugares mais distantes vai a pé ou de bicicleta.

Diogo tem amigos famosos. Considera isso uma sorte. De São Paulo, cita o hoteleiro-restaurateur Rogério Fasano e o jornalista Mário Sérgio Conti, que foi quem o levou para Veja. Do Rio, Millôr Fernandes e Danuza Leão, com os quais janta com uma certa regularidade. Diz que, ao vivo, Millôr e Danuza são tão interessantes quanto aparentam ser para quem os lê. Explica que nesses encontros fica calado, escutando. Concorda com a observação feita por Paulo VI, quando de sua visita a Nazaré, de que é preciso ter estima pelo silêncio. Em seu caso, acha que é de caso pensado. Por isso, ouve mais do que fala, classificando seu mutismo de contemplativo, não de isolamento. Ressalta que a melhor coisa que fez na vida foi calar a boca na hora certa. Isso lhe valeu, entre outros ganhos, um convívio afetuoso com o falecido Francis e com os vivíssimos Ivan Lessa e Millôr – seus eternos paradigmas.

Polemista, no ataque e na defesa

Em sua entrevista ao Estado, Diogo Mainardi se defendeu e também deu sua opinião sobre pessoas e acontecimentos. Alguns exemplos:

Lula

“Hoje em dia sou muito cumprimentado por homens e mulheres. A maioria me diz: ‘Vai lá, acaba com o Lula, bate nele, você está batendo até pouco.’ Em 2005 eu defendi que o Lula fosse tirado da presidência, e acho que ele deve ser responsabilizado penalmente. A questão é se ele vai ou não para a cadeia. Não é sobre se ele vai ganhar a eleição ou não. Eu considero ilegítimo o seu mandato atual e acho que ele nem poderia ser candidato à reeleição, por tudo o que aconteceu. A recandidatura Lula, se ocorrer, é fruto de uma maquinação entre o PSDB e o PT. Ele foi salvo pelo PSDB, que não teve peito para propor seu impeachment.”

Serra e Alckmin

“Se for candidato, o Serra já levou a eleição. O nível de rejeição, o ódio que a classe média tem hoje em dia pelo Lula é algo que não pode ser contornado. Todos esses votos vão para o candidato com melhor chance não apenas de derrotar, mas de esmagar o Lula. E Serra é o único que pode fazer isso. Acho até que o Alckmin pode ganhar do Lula. Mas eu quero alguém que o esmague. E meu projeto futuro será derrubar o Serra daqui a três anos. Por que não? Acho uma estupidez o voto nulo em outubro. É preciso dar uma punição exemplar ao PT e ao Lula.”

Gore Vidal

“Eu o conheci em São Paulo, quando fui convidado pelo Luiz Schwarcz para ser seu intérprete quando ele veio ao Brasil fazer a promoção de seu livro de ensaios chamado De Fato e Ficção. Foi um dos primeiros lançamentos da Companhia das Letras, para quem eu já fazia uma espécie de consultoria em literatura anglo-saxônica. Na Itália, voltei a conviver com ele, e a grande frase a respeito desse convívio quem fez foi o próprio Vidal. Assim que ele me conheceu, ele me disse: ‘Olha, você não precisa se preocupar, porque você é velho demais para mim.’ Velho porque eu tinha 22 anos… Nessa época ele não era casado. Ele tinha o secretário dele, com o qual ele jura não ter tido nenhum tipo de relação.”

Arnaldo Jabor

“Ninguém é mais divertido do que ele, e nada mais divertido para mim do que debocharem do Jabor. Ele se expõe, não tem medo do ridículo. Ele fala mal de mim, em particular. É claro que ele é muito mais divertido do que eu. Mas no jogo de cena público, ele não fala nada a meu respeito, ele não quer levantar a minha bola. Mas no primeiro ano e meio do governo, Jabor era lulista. Dizia que o Lula era pessoa digna, que soube resistir aos acadêmicos de esquerda e ao sindicalismo burro, que conseguia pairar acima de todo mundo. Jabor fazia o panegírico da figura Lula. Mas, ultimamente, ele e todo mundo metem o pau no Lula.”

Jornalistas

“Eu estou me lixando de poder ou não ser chamado de jornalista. O Luís Nassif disse que eu sou um parajornalista, e eu acho uma definição perfeita. Ainda existem lulistas camuflados na imprensa. E eu gostaria de saber quantos jornalistas sabiam do esquema Marcos Valério antes que ele viesse à tona na entrevista do Roberto Jefferson. É inacreditável, para não dizer escandaloso, que o caixa dois do PT tenha ficado sem qualquer registro na imprensa por tanto tempo. Gostaria de saber se os jornalistas de Brasília falaram com seus chefes sobre os boatos que corriam a respeito, se fizeram alguma coisa para apurá-los. Sem falsa modéstia, fui dos primeiros a desmascarar o Lula e o PT. O jornalista no Brasil se considera o guardião da civilidade. Esse é o problema. Ele acha que pode determinar o que o leitor deve ou não deve saber. Acha que o leitor deve saber apenas o que ele, jornalista, acha que é bom para o processo civilizatório. Na política, o jornalista de Brasília tem informações privilegiadas, sabe de coisas que o leitor não sabe. Na economia, o de São Paulo é o mais informado; o do Rio sabe de mais coisas na área cultural.”

Delação

“Existia nas minhas palavras uma tentativa de romper essa onda corporativista, onde jornalistas não revelavam intenções recônditas de colegas. No caso Janene, sem dúvida cometi uma traição; no caso dos jornalistas, também. Mas existiu um trabalho de apuração. Eu obtive as informações e as transmiti de maneira grosseira, tentando dar a linha ideológica de cada jornalista que citei. Mas essas informações não saíram do nada. Eu uso muito o meu faro, que funcionou em alguns casos. Mas não fui leviano em nenhum momento, e não recebi até agora nenhum tipo de evidência que contrarie o que eu escrevi. Os piores insultos que me dirigiram fui eu mesmo quem os atribui a mim mesmo. Me acusam de dedo-durismo, de macarthismo, isso está lá no meu texto. Agora que estou sendo processado pelo Carlos Jereissati, ele usa as minhas frases contra mim, o que não deixa de ser paradoxal. Para demonstrar que sou injurioso, ele cita os meus artigos, onde eu faço auto-ironia, me autodeprecio.”

Dinheiro

“Não sou um homem rico, não tenho nenhuma propriedade. Meu pai? Coitado, torrou todo o dinheiro que ganhou. Ele foi rico. Apartamento em Nova York, em nome dele? Coitado, tá tudo penhorado ou vendido. Ele não tem nada. Moro aqui na Vieira Souto com o que ganho. Não tenho um tostão em caderneta de poupança. Eu gasto exatamente tudo o que eu ganho.”

Iraque

“Acho que a guerra já deu resultados, como a derrubada do Saddam Hussein e a realização de eleições livres, três até agora. Ela vai fazer bem aos iraquianos. Não tenho dúvidas de que é possível criar lá uma democracia. Mas eu sempre disse que essa guerra vai fazer mal aos Estados Unidos.”

Falando de um moleque, com paixão e otimismo

O pequeno Tito chega à sala no colo da mãe e encara o visitante. São muito belos e sugestivos os olhos desse menino. Daí a pouco ele decide caminhar com as próprias pernas, com umas das mãos agarrada no braço da mãe. Embora não fale, é como se ele dissesse a todos os que o vêem naquele momento: “Vejam, já sou capaz de andar.” E Tito cumpre uma pequena caminhada sem o andador. Sabe que ainda não chegou aonde quer chegar, aonde seus pais, os parentes, os amigos de seus pais querem que ele chegue num dia desses. A primeira caminhada, assim meio desajeitada como essa de agora, é uma conquista recente. Foi um momento mágico que os pais continuam a festejar nesta segunda segunda-feira da segunda semana de janeiro de 2006. O pai diz estar vivendo um porre de felicidade por ter gerado e por conviver com esse menino. Um porre que já dura cinco anos, nos quais se desconta apenas uma paroxística temporada no inferno, com cinco dias de duração. Por incompetência do obstreta da maternidade pública de Veneza, Tito ficou sem respirar por uns mínimos instantes, logo após ser retirado do ventre da mãe. Paralisia cerebral, foi a seqüela do descuido médico. Levado para a UTI, passou cinco dias brigando com a morte. A vitória do bebê deu início à temporada de mistérios gozosos de Diogo, rejuvenescida com o nascimento de Nico, há seis meses. São do pai este depoimento sobre seu primogênito:

“Meu filho nasceu quase morto. Passado esse período na UTI, não tive mais sofrimento por um único segundo. É um moleque que só me traz amor, dedicação e prazer. E isso é perfeitamente explicável: é uma criança maravilhosa, inteligente, rápida, bem-humorada, que tem uma couraça sentimental absolutamente inatingível. Nosso intercâmbio é rico como jamais tive com nenhum ser humano. É recente que ele ande sem o andador. Com o andador ele faz quilômetros, é um andarilho. O prognóstico para o futuro é extremamente favorável. Hoje em dia a gente nem se pergunta mais. Eu e minha mulher sabemos que é um moleque que vai se virar na vida. De alguma maneira ele vai se virar…”

E por e-mail, Diogo Mainardi esboçou, a pedido, este breve auto-retrato:

“Sou um otimista, um idiota panglossiano, acho que todas as dificuldades podem ser superadas. E, quando não podem ser superadas, pelo menos podem ser toleradas. Falta-me profundidade psicológica. Eu já disse: sou unidimensional, raso. Me vejo como um bode cubista: está tudo ali, achatado no mesmo plano. É assim que vejo os outros também: somos todos uns chimpanzés. Não dá para exigir uma intensa vida interior de chimpanzés. Importante, para mim, são as tarefas domésticas, sobretudo catar piolho na meninada.”

P.S.: Diogo não quis deixar seu belo filho ser fotografado pelo jornal. Disse que iria consultá-lo, mas considerou improvável obter a concordância do menino. Explicou que Tito não gostara nada de ver sua cara estampada recentemente na Veja, em companhia do colunista e do irmão Nico.

Esta matéria foi originalmente publicada em O Estado de S. Paulo, em 22 de janeiro de 2012. 

 

Dilma 1,99 Rousseff

 

“Depois de falir como comerciante, Dilma Rousseff voltou correndo para o aparelho estatal. A loja de produtos panamenhos e chineses foi expurgada de sua biografia oficial. O fracasso revela a verdadeira natureza de Dilma Rousseff: ela só existe como acessório do PT”

 

Dilma Rousseff teve uma loja de produtos importados. O empreendimento durou menos de um ano e meio. Se Dilma Rousseff mostrar como presidente da República o mesmo talento que mostrou como empresária, o Brasil já pode ir fechando as portas.

Dilma Rousseff era uma apaniguada do PDT. Quando saiu do PDT, ela virou uma apaniguada do PT. Desde seu primeiro trabalho, trinta anos atrás, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Dilma Rousseff sempre foi assalariada do setor estatal. E no setor estatal ela sempre foi apadrinhada por alguém. O PT loteou o estado. Nesse ponto, Dilma Rousseff é a mais petista dos petistas. Porque durante sua carreira todos os cargos que ela ocupou foram indicados por alguma autoridade partidária. Dilma Rousseff é o Agaciel Maia dos Pampas. Ambos pertencem à mesma categoria profissional. Tiveram até cargos análogos. Agaciel Maia, apaniguado de José Sarney, foi nomeado diretor-geral do Senado.

Dilma Rousseff, apaniguada de Carlos Araújo, foi nomeada diretora-geral da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Além de ser um dos mandatários da esquerda gaúcha, Carlos Araújo era também o marido de Dilma Rousseff, garantindo esse gostinho pitoresco de Velha República cartorial e nepotista.

A loja de produtos importados de Dilma Rousseff foi inaugurada em 1995. Fechou quinze meses depois. Foi o primeiro e último trabalho que ela teve fora do sistema de loteamento partidário. Deu errado. Carlos Araújo, seu financiador, acabou perdendo dinheiro. O dono de uma tabacaria localizada perto da loja de Dilma Rousseff contou o seguinte à Folha de S.Paulo: “A gente esperava uma loja com artigos diferenciados, mas quando ela abriu era tipo R$ 1,99”. A especialidade de Dilma Rousseff eram os brinquedos chineses importados da Zona Franca de Colón, no Panamá. Em particular, os bonecos dos “Cavaleiros do Zodíaco”, escolhidos pessoalmente por ela. O Brasil de Dilma Rousseff será assim: um entreposto de muambeiros panamenhos inteiramente tomado pela pirataria chinesa. É o Brasil a R$ 1,99. Dilma Rousseff, com seu mestrado galáctico, será nossa Saori Kido, a Deusa da Sabedoria dos “Cavaleiros do Zodíaco”. José Dirceu, com sua armadura vermelha, será nosso Dócrates mensaleiro.

Depois de falir como comerciante, Dilma Rousseff voltou correndo para o aparelho estatal, onde ninguém perde dinheiro e o único cliente é o partido. A loja de produtos panamenhos e chineses foi convenientemente expurgada de sua biografia oficial. O fracasso do empreendimento, porém, revela a verdadeira natureza de Dilma Rousseff: ela só existe como um acessório do PT, exatamente como os sabotadores da Receita Federal que violaram o imposto de renda da filha de José Serra e fraudaram seus documentos. O Brasil está à venda por R$ 1,99. Ou fechamos as portas de Dilma Rousseff, ou ela fechará as nossas portas.

Por Diogo Mainardi

 

 

O BRASIL EXPLICADO PARA COELHINHOS 

O que é o Brasil? A diretora da escola Ex-Ciliota mostrou-me um uquelele havaiano. Ela perguntou se eu poderia usar o uquelele havaiano em minha palestra sobre o Brasil. Respondi que sim: uquelele havaiano e cavaquinho brasileiro eram exatamente iguais. Foi por isso que entrei na sala de aula da escola Ex-Ciliota dedilhando um uquelele havaiano e rebolando como Elvis Presley. Aloha.

Sou brasileiro. Se o tema da palestra era o Brasil, achei oportuno esclarecer imediatamente que eu era brasileiro. Os membros da plateia me olharam com desinteresse. A maior parte deles sabia de onde eu vinha. Eu era conhecido naquele ambiente. Eles me viam praticamente todos os dias. Os membros da plateia, alunos da escola Ex-Ciliota, tinham entre 2 anos e meio e 6 anos de idade, e um deles, que naquele momento estava se acomodando em meu joelho, era meu filho menor, da classe dos “coelhinhos”.

O Brasil é grande. A diretora da escola Ex-Ciliota convidara os pais de todos os alunos estrangeiros a falar sobre seu país de origem. Uma semana antes de eu falar sobre o Brasil, os pais de um colega de meu filho haviam falado sobre El Salvador. Com uma ponta de chauvinismo, prossegui minha palestra dizendo que o Brasil era muito, muito grande, e que El Salvador era muito, muito pequeno, para o desconsolo de Miguelito.

O Brasil é longe. A escola Ex-Ciliota está localizada na Itália. Mais exatamente: em Veneza. O Brasil é longe de Veneza. Um “coelhinho” de 2 anos e meio pode ter uma certa dificuldade para compreender o que é longe e o que é perto. Tentei explicar, mesmo assim. O que caracteriza o Brasil é o fato de ser um lugar distante, um lugar remoto. É seu alheamento mental, mais do que geográfico. O Brasil me parecia distante e remoto até quando eu morava no Brasil.

O Brasil tem gente de todos os tipos. Na verdade, a escola Ex-Ciliota tem gente de todos os tipos: chineses, filipinos, ingleses, argentinos, canadenses, dinamarqueses, salvadorenhos. O Brasil, no passado, já teve gente de todos os tipos. Agora só tem gente de um tipo: que fala do mesmo jeito, que pensa do mesmo jeito e que repudia a diversidade. O Brasil se tornou o Velho Mundo.

O Brasil é quente. A temperatura em Veneza, naquele instante, era de 2 graus. Contei aos membros da plateia que, quando em Veneza estava frio, no Brasil estava quente. E que, quando em Veneza estava quente, no Brasil continuava quente. Contei também que, por esse motivo, os índios brasileiros andavam sempre nus.

Nós matamos todos os índios. Os “coelhinhos” gostaram de saber que matamos todos os nossos índios. Entendo o sentimento deles. No sábado anterior, eu levara meu filho menor ao Palazzo Ducale. Depois de ver algumas das mais importantes obras realizadas pelo homem, ele só se impressionou com o detalhe do quadro A Batalha de Lepanto, de Andrea Vicentino, em que um marujo é retratado com uma flecha enterrada no meio do cocuruto. O único feito memorável de um povo, para um “coelhinho”, é conseguir exterminar outro povo.

O Carnaval explicado para “coelhinhos”. Eu poderia escrever um livro intitulado “O Brasil explicado para coelhinhos”. Eu poderia escrever outro livro intitulado “A Batalha de Lepanto explicada para coelhinhos”. Eu poderia escrever outro livro intitulado “O Dow Jones explicado para coelhinhos”. Eu poderia encerrar a série com um livro intitulado “O Carnaval explicado para coelhinhos”. O brasileiro é porco. Foi o que disse meu filho, sentado em meu joelho, quando lhe perguntei o que ele lembrava do Carnaval do Rio de Janeiro. Ele só se lembrava das latinhas jogadas na rua. Ele só se lembrava do cheiro de urina. Ele só se lembrava que o brasileiro era porco. Respondi que o Carnaval de Veneza era igual.

Atirei o pau no gato-to. Uma das professoras me pediu que cantasse uma música brasileira. Meu filho escolheu Atirei o pau no gato. Na escola Ex-Ciliota, ensinaram-lhe outra música, cuja letra é a seguinte: “Na ilha de Creta-ta, vive Minos-nos. Socorro! Socorro! O Minotauro-ro! O Minotauro-ro!”. Compare “gato-to” a “Creta-ta”. Compare “Dona Chica-ca” a “Minos-nos”. Compare “morreu-reu” a “Minotauro-ro”. A mitologia grega é enterrada como uma flecha no meio do cocuruto de meu filho. Qual é a vantagem disso? Minos é mais próximo de mim. Dona Chica é mais distante e remota. Quero meu filho mais próximo de mim.

O Brasil é… Resolvi interromper a palestra. Eu estava falando sem parar havia mais de meia hora. Os membros da plateia bocejavam. Devolvi o uquelele para a diretora da escola e, como Elvis Presley, voltei alegremente para minha Graceland veneziana. O que é o Brasil? O Brasil é só um assunto aborrecido. Aloha.