PERSONAL THINGS

22/10/2014 20:44

POR INTEIRO

 

 

 

Se metade dos planos que tracei

tivessem se concretizado

metade das frustrações que amarguei

seriam apenas hipóteses.

Se metade das hipóteses que cogitei

tivessem ao menos um fundo de verdade

metade de minhas alucinações

seriam apenas efeito do álcool, dos sonhos e da coca.

Se metade dos meus vícios

possuíssem alguma virtude

metade de meus pecados

seriam passíveis de perdão.

Se metade de meus pecados

tivessem sido cometidos por inocência

ao menos esta metade

mereceria algum arrependimento.

Se sentisse ao menos metade de um mísero arrependimento

por qualquer coisa que fosse

certamente eu não seria

nem metade do que sou.

No fim

agradeço a Deus

o fato de ter vivido e me doado para esta vida

sempre por inteiro.

 

POEMA URGENTE

 

 “É preciso criar um filho, plantar uma árvore e escrever um livro..." Sim, é verdade! É preciso perpetuar nossa espécie, cuidar do planeta e deixar vivo um pensamento. Mas, mais do que isso é preciso caminhar sem destino, ouvir o vento soprar, respirar uma brisa, colher flores no campo, tocar uma pétala, cheirar um jasmim, afagar um cachorro, ouvir rouxinóis, mergulhar no oceano, tomar banho de chuva, observar as estrelas, saber do orvalho, olhar para o céu e admirar o sol se pôr...

É preciso suspirar de paixão, sorrir sem motivo, cantar em voz alta, desafinar engraçado, fazer cara de bobo, rir de si mesmo, dançar de euforia, chorar de alegria, viver o momento, namorar ao luar, compartilhar um segredo, sussurrar uma jura, beijar muito na boca, sentir desejo sem culpa, e gozar de prazer...

É preciso amar ao menos uma vez, ter o amor de alguém, receber um abraço, ofertar um carinho, confiar nos instintos, compreender a razão, cometer um engano, errar um caminho, aprender com os erros e sentir solidão...

É preciso ser triste também, beber quando triste, confessar um pecado, aprender o perdão, esquecer uma ofensa, perder um rancor, vencer uma mágoa, iludir um temor e recomeçar tudo outra vez...

É preciso ver o azul de Cézanne, sentir um Channel, ouvir a voz da Elis, contar uma mentira, inventar uma história, sentir um poema, recitar um versinho, ler Itabira, entender de Pessoa e compreender o Desejo...

É preciso parar de olhar para o umbigo, vislumbrar a amplidão, conhecer os limites, ultrapassar as barreiras, atravessar as fronteiras, viajar pelo sertão, sentir um pouco de sede, conhecer o tanto da fome e ter compaixão...

É preciso filosofar sobre o nada, ir contra o sistema, não suportar a tudo calado, sentir-se indignado e fazer uma revolução...

É preciso ter alguma ambição, desejar o que falta, dar valor a quem têm, ter uma crença, orar uma prece, confiar em alguém, respeitar diferenças, não ter preconceito, resolver os problemas e esquecer o que não tem solução...

É preciso cultivar um amigo, ter um irmão, sonhar um futuro, ter esperança, padecer de uma ausência, sentir uma saudade, amar nossos filhos, respeitar nossos pais, levantar uma casa, viver em um lar, saber dizer sim e aprender a ouvir não...

É preciso esquecer quem te esquece e lembrar quem te ama, e é preciso, é urgente e preciso, e cada dia mais se deixar levar pela mão da criança que ainda existe em você e continuar vivo para ver o novo dia nascer.

 

 

 

MILAGRE

 

 

 

Já estou farto

de olhar para o seu retrato

e dele saber-me prisioneiro.

Já estou cego

de ver a tua ausência.

Mas eis que um milagre acontece

quando o silêncio

aponta para o infinito

e uma estrela sonâmbula

se torna triste.

 

Depois disso

mais nenhuma dádiva

acontece em minha solidão.

 

(...)

 

Texto escrito em 2003

NOVOS CONCEITOS ou O ÓCIO

 

 

     Pensando profundamente sobre a maneira de ser das pessoas, conforme a idade, cheguei à novas definições, de forma totalmente pessoal e irresponsável, sobre cada uma das fases na vida do ser-humano.

     Na primeira fase de nossas vidas, ou somos um artigo decorativo ou somos um estorvo. Tudo depende se nossos pais tem ou não condições de pagar uma babá, esta profissional indispensável na vida dos genitores. Tão indispensável que talvez até venha justamente por causa dela a nossa nomeação nesta fase inicial de nossas vidas. - Ou é o con-trário, sei lá! - Somos os "BB's" - Nada a ver com o "Big Brother"! - Esta fase vai de nosso nascimento até o momento em que aprendemos a andar e a falar as primeiras palavras. Entre um e dois anos de idade.

     Na segunda fase, somos os "Puros", assim determinados porque é nesta fase que, apesar de já termos alguma compreensão sobre as coisas, estamos completamente à mercê dos ensinamentos dos adultos. É nesta época que ainda podemos ser modelados conforme a vontade - ou a vaidade - de nossos criadores. Esta fase termina no exato momento em que começamos a compreender a importância do sexo oposto em nossas vidas - no caso de alguns, a importância das pessoas do mesmo sexo que eles -, lá pelos nove ou dez anos de idade.

     A fase seguinte, a terceira, eu a denomino de "Pré"! - Por que "Pré"? - Oras, porque os "Pré's" estão sempre há um passo de todas as coisas: da adolescência, do primeiro beijo, do primeiro amor, da primeira briga, e, principalmente, porque é nesta fase que achamos já saber de tudo nesta vida. Veja bem, nós apenas "achamos". Quer dizer, somos "pseudo-oniscientes"... "quase-oniscientes"... "pré-oniscientes".

     Esta fase termina por volta dos treze anos.

     A próxima fase, até por uma questão cronológica, é a quarta. Nesta fase, a definição não é minha, mas como acredito que atualmente seja a mais correta, faço uso dela. É fase "Teen". Os "Teen's", diferentemente dos "Pré's", já estão experimentando alguns itens básicos da vida, como o beijo, o amor, etc! E se antes destas experiências éramos "quase-oniscientes", ao final desta fase, alcançamos o "Nirvana". - Não a banda de rock, mas o estado de espírito. - Somos o Yng e o Yang em um único ser. Em resumo: a virgindade já foi para o espaço, já traímos e fomos traídos, nossos pais, de uma hora para a outra, já não sabem nada da vida, temos um RG e somos alguém, e vivemos a liberdade total: fumamos feito uma chaminé, não temos hora para chegar nem para sair, não prestamos contas a ninguém, e todo fim-de-semana é um porre a mais para o nosso currículo. Esta fase termina, mesmo que deixando graves sequelas, ao completarmos vinte anos de idade.

     Aos vinte, uma nova fase. E esta é "A FASE"! Aqui, eu os denomino como os "Opinião-Formada-Sobre-Tudo". - E viva Raulzito! - Afinal, não há mais nada para descobrir. Já experimentamos de tudo na vida. Vivemos em êxtase! Tudo vemos, tudo sabemos, e só não esta-mos em tudo por falta de tempo e dinheiro. É extremamente complicado conversar com alguém que esteja nesta fase, já que eles tem sempre uma "opinião-formada-sobre-tudo"! A não ser que os dois interlocutores pertençam a esta mesma fase, pois aí cada um grita sua própria verdade na mesa do bar e ninguém se escuta. E, ao final da noite, humana-mente nos igualamos e acabamos todos indo visitar o confessionário. - Conforme disse Cazuza: "O banheiro é a igreja de todos os bêbados!" Se isto é realmente verdade, é a privada o seu confessionário! - Esta fase termina aos nossos vinte e cinco anos.

     Na sexta fase, nós somos os "Chatos"! Sim, "Chatos"! Pois é nesta fase que os sonhos começam a naufragar, as aspirações começam a se perder, e percebemos que por maior que seja nossa capacidade, a vida sabota todas as nossas tentativas e deprecia todas as nossas qualidades. Descobrimos que a vida não é aquela festa que pensávamos, e acabamos nos tornando, mesmo que involuntariamente, pessoas um tanto quanto depreciativas, sarcásticas... consequentemente... naturalmente... "chatas"! Esta fase termina ao completarmos trinta anos de idade.

     Na fase seguinte, a sétima, nossa denominação remete a Honoré de Balzac e sua personagem feminina de trinta poucos anos: a mulher "balzaquiana". Mas como o mundo mudou muito desde que Balzac nos deixou, e os homens descobriram - ou assumiram - também ter sua parte feminina - ainda que a minha seja sapatão -, acredito que hoje os desejos, anseios e frustrações são basicamente as mesmas nesta idade, seja para homens ou mulheres. Por isso, uno os dois sexos em uma mesma nomenclatura simbólica-pseudo-hermafrodita - e Freud que vá se trancar em seus 500 alçapões e me deixe em paz -: somos os "Balzaques". É nesta fase que qualquer um com um mínimo de bom senso percebe que alguma coisa saiu errado em nossas vidas; que compreendemos, finalmente, que vivíamos um engano e que se juntarmos tudo o que sabemos da vida, não dá para encher uma caixa de fósforos. É a partir daí que percebemos o quanto somos limitados e descobrimos que quanto mais aprendermos, mais teremos consciência do pouco que sabemos. Esta fase termina aos trinta e nove anos.

     Daí em diante, se uma bala pedida ainda não tiver nos matado e nem ainda nos suicidamos por tanta frustração, descobriremos o significado exato da palavra "frustração", sem precisarmos recorrer ao Aurélio, bastando apenas olhar para um espelho. E assim tocaremos nossas vidas e partiremos em direção as fases seguintes. Mas como ainda estou na fase dos trinta, não posso e nem quero comprometer a sinceridade de todas as bobagens que acabei de dizer, escrevendo, sem nenhum embasamento científico, sem nenhum conhecimento maior, sobre coisas que ainda não sei... Foi uma redundância?... Foi! Mas, e daí? É nesta minha fase que a gente já tem certeza que não consegue fazer nada direito mesmo e também não faz nada para consertar.

         Bom, então ficamos assim, e daqui há alguns anos nos falamos novamente.

 

         Walter Marques

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11 anos depois, 3 depois de ter entrado nos 40, ainda não sei o que dizer sobre estar nos 40..